Ex-presidente aproveita a tensão para pôr a culpa em Biden e minimizar a violência da extrema direita em seu mandato. Trump elogiou ação policial, chamou manifestantes de extremistas radicais e minimizou protestos de supremacistas durante sua gestão.
Victor J. Blue/Pool via Reuters
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump aproveita os protestos nas universidades americanas para tentar desviar a atenção do julgamento em que é réu em Nova York e capitalizar apoio na disputa eleitoral em novembro.
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A estratégia é um tanto quanto óbvia: pôr a culpa dos distúrbios em Joe Biden, a quem gosta de retratar como fraco, mostrando que, se fosse ele o comandante-em-chefe, a situação seria diferente. Não foi assim nos quatro anos em que ele ocupou a Casa Branca.
A invasão de um prédio da Universidade de Columbia pela polícia de Nova York na terça-feira à noite, foi, nas suas palavras, “uma coisa linda de se ver”. Na sua mais genuína retórica de lei e ordem, Trump generalizou os manifestantes como lunáticos furiosos e simpatizantes do Hamas.
“Os extremistas radicais e os agitadores de extrema esquerda estão aterrorizando os campi universitários, como vocês possivelmente notaram”, disse Trump. “E Biden não foi encontrado em lugar nenhum. Ele não disse nada.”
Sob pressão do eleitorado jovem insatisfeito com a condução da política americana em relação a Israel, o presidente demorou para se manifestar e, quando o fez, optou por permanecer em cima do muro.
Num pronunciamento nesta quinta-feira, Biden finalmente quebrou o silêncio. Defendeu o direito à liberdade de expressão, mas não o direito dos manifestantes de causarem o caos. Condenou os estudantes que levaram longe demais suas demandas sobre a guerra de Israel contra o Hamas, mas manteve como princípio o de descartar o envio da Guarda Nacional aos campi.
Faixa colocada em acampamento na Universidade de Columbia, em Nova York, manifesta solidariedade aos palestinos de Gaza
Stefan Jeremiah/AP
Já o ex-presidente pega carona nos protestos para minimizar episódios de violência que marcaram o seu mandato.
“Charlottesville é uma ninharia em comparação com o que estamos vendo agora”, decretou. Em 2017, a explosão de violência causada por uma marcha de supremacistas deixou um morto e 40 feridos na cidade da Virgínia. Em vez de condenar os nacionalistas, Trump disse que havia “gente boa dos dois lados”.
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Os protestos que eclodiram no país em 2020 após o assassinato de George Floyd, um homem negro asfixiado por um policial branco em Minneapolis, irritaram o então presidente, que ameaçou convocar o Exército e a Guarda Nacional para conter os manifestantes.
Derrotado por Biden no mesmo ano, ele foi acusado de incitar seus partidários a invadir o Capitólio e impedir a certificação do presidente eleito pelo Congresso. Mais de 1.300 pessoas foram acusadas de crimes federais, das quais ao menos 800 receberam condenações pela Justiça.
Diante da escalada da tensão nos acampamentos estudantis montados em dezenas de campi, Trump procurou distorcer a realidade, subestimando a gravidade do motim na sede do Congresso americano, há quatro anos, e atacar o sistema judicial.
“Eu me pergunto se o que vai acontecer com estes manifestantes será algo comparável ao que aconteceu em 6 de janeiro porque estão causando muita destruição, muitos danos e pessoas gravemente feridas. Eu me pergunto se darão o mesmo tratamento que deram ao 6 de janeiro.
Trata-se de Trump, mais uma vez, tentando reescrever os fatos e a história conforme lhe convém.
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G1 mundo