Capital se consolida como novo polo de produção e deve atrair mais investimentos para o setor Porto Velho está se consolidando como um dos principais entrepostos de exportação de grãos do país
Eranildo Costa Luna
Com uma extensão territorial de mais de 34 mil quilômetros quadrados, Porto Velho tem se destacado pela expansão do setor produtivo. Com o maior rebanho bovino de Rondônia, com 1,7 milhão de cabeças de gado e ampliando a cada ano o plantio de grãos, o município se posiciona já entre os mais produtivos do Estado. E com essa expansão na agropecuária, ocorre também um processo de industrialização.
“O momento atual é a chegada e o fortalecimento da indústria que apoia a agropecuária. Como bases de embarques de grãos, indústrias de fertilizantes, setor de nutrição animal que cresceu muito, com o setor primário organizado e com volume de milho e soja que permitem a produção de ração animal. São ações que, conjugadas, fortalecem a economia do Estado e isso se dá pelo avanço da produção primária”, destacou Marcelo Thomé, que preside a Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero) e a Agência de Desenvolvimento do Município de Porto Velho (ADPV).
Segundo Thomé, “setores econômicos são complementares, para ter agro forte, é importante ter indústria forte. O implemento do agro é um produto industrial, o fertilizante, as tecnologias são serviços industriais, a implantação de um frigorífico. E isso bem consorciado, cria esse vetor de crescimento que Rondônia tem experimentado”.
Para o presidente, a capital tem atravessado um momento de expansão da agropecuária. “Momento positivo e irreversível. Porto Velho tem uma disponibilidade grande de terras subutilizadas ou degradadas que permitem essa forte expansão, no entorno da capital, com uma vantagem comparativa enorme que é a proximidade com o porto para o escoamento da produção, gerando competitividade ao produtor rural, pois o custo de logística é menor”.
ESCOAMENTO
Por sua localização estratégica, Porto Velho está se consolidando como um dos principais entrepostos de exportação de grãos do país. Nos últimos anos, o município recebeu cerca de R$ 2 bilhões de investimentos privados para a construção de tombadores e estações de transbordo de cargas, em novos terminais de embarque de grãos e de outros produtos, com perspectivas de expansão.
“Esses investimentos não são por acaso: se há essa decisão de grandes empresas é em razão da nossa potencialidade. Porto Velho tem vantagens competitivas para ser um dos principais ‘hubs’ logísticos do país, isso é evidente”.
Ele avalia ainda que “o setor privado já percebeu isso e para alcançar a sua plenitude precisa da duplicação da BR-364 e a conexão de outras rotas, do Noroeste do Mato Grosso a Rondônia, a exemplo da BR-174. Por falta de rodovia pavimentada, esses grãos vão para o porto de Miritituba, em Itaituba (PA), mas poderiam vir para Porto Velho, que é muito mais próximo”.
Segundo ele, “é preciso a construção de uma malha rodoviária que permita atrair essa produção para ser escoada por Porto Velho, não só pela BR-364, que é uma rodovia já estrangulada e a sua duplicação é uma necessidade urgente. De nada adianta termos portos de transbordo de cargas se os caminhões não chegam”.
Thomé cita ainda o projeto de construção da ferrovia para o transporte de carga. “Há potencial econômico para a ferrovia que conecte toda a região para Porto Velho. É um tema que precisa ser enfrentado pelo poder público, o destravamento desse investimento.
Adicionalmente, o rio Madeira precisa ser uma hidrovia de fato. Somos um rio navegável, mas para ser hidrovia precisamos ter investimentos em batimetria, sinalização permanente, dragagem dos pontos críticos, gestão sobre o ativo logístico. Isso é feito esporadicamente, em períodos mais críticos de navegação. Esse modal precisa ser gerido de forma tecnicamente adequada”.
BR-319
Outro ponto importante é a pavimentação asfáltica da BR-319, que liga Porto Velho a Manaus (AM), com cerca de 400 quilômetros por fazer. “Não é uma rodovia para o transporte de grãos e de cargas de grande volume, que deverá seguir ocorrendo por via fluvial. Mas, para produtos perecíveis, como carnes, peixes, hortifrutigranjeiros. Será essencial para que possamos acessar o mercado de Manaus em dez horas de estrada. Além de facilitar a vinda de eletroeletrônicos e o trânsito de pessoas”, observou.
Na opinião de Marcelo Thomé, “teria um enorme impacto positivo em nossa economia essa pavimentação da BR-319. Teríamos um mercado enorme, que mudaria o perfil produtivo de Porto Velho. Tem muito a ver com a nossa matriz econômica e permitirá acesso a um grande mercado consumidor, com grande poder aquisitivo”.
FUTURO
Marcelo Thomé ponderou ainda que “no momento, trabalhamos para que o consórcio entre o desenvolvimento da agropecuária e da indústria, que dá essa sustentação ao setor, siga pelos próximos dez anos ou um pouco mais. Mas, precisamos preparar Rondônia para uma agenda nova, uma agenda que dialogue com a identidade econômica da Amazônia, buscando identificar e viabilizar essas possibilidades conectadas à economia verde”.
De acordo com ele, “estamos falando da integração lavoura, pecuária e floresta, mercado de carbono, manejo sustentável, fontes renováveis de energia (como a fotovoltaica) e produção de hidrogênio sustentável. São tantas agendas e elas são o futuro da indústria de Rondônia: a bioeconomia traduzida em bionegócios”.
FARMACÊUTICA
Mas, não são apenas empreendimentos ligados ao setor produtivo que aportam na capital. A empresa Mittel Pharmaceutics anunciou um investimento de R$ 141,8 milhões, com geração de 240 empregos diretos, para a construção da primeira indústria de medicamentos na região Norte.
Serão investidos R$ 66,8 milhões em obras civis, R$ 72,7 milhões em máquinas e equipamentos, mais R$ 1,7 milhão em equipamentos laboratoriais e controle de qualidade, além de R$ 428,5 mil em mobiliário. O processo de produção está previsto para o início de 2026.



G1 Rondônia