Os problemas climáticos impactam a saúde mental da população, podendo gerar a ecoansiedade
Porto Velho, RO – A escassez de água e as consequências das fumaças decorrentes dos incêndios florestais, em sua maioria criminosos, não atingem somente a situação ambiental, mas também afetam profundamente a saúde mental da população, podendo criar um fenômeno psicológico decorrente da crise ambiental. Diante da crescente necessidade de cuidar dos efeitos das mudanças climáticas, o governo de Rondônia, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), alerta a população acerca da ecoansiedade ou ansiedade climática.
A ecoansiedade é um sentimento de angústia e preocupação com o futuro da situação climática e as consequências de suas mudanças. De acordo com o psicólogo do Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) Madeira Mamoré, Edlei Timbo Passos, o impacto emocional nas pessoas é de impotência, podendo gerar um sentimento de desespero diante dos eventos climáticos extremos, como as queimadas e a seca. “Estamos lidando com algo muito novo, que ainda não conseguimos mensurar como isso pode adoecer a população; entretanto, percebemos que, em geral, o aumento do calor e da poluição por fumaça causa um efeito de adoecimento físico que leva a prejuízos emocionais, muitos dos quais se agravam com os gastos em saúde e medicação, gerando assim, preocupação exacerbada”, explicou.
Uma pesquisa recente da Associação Americana de Psicologia indica que, entre 25% e 50% das pessoas expostas a desastres climáticos podem desenvolver problemas de saúde mental. Dentre os fatores que mais podem contribuir, estão a falta de recursos financeiros decorrente da degradação ambiental e a escassez de abastecimento de água, limitando o acesso à água potável para beber e cozinhar.
Os sintomas de ansiedade relacionados às mudanças climáticas podem ser identificados:
- Inquietação e agitação: sensação constante de nervosismo ou incapacidade de relaxar;
- Insônia: dificuldade para dormir ou manter um sono reparador devido a preocupações com questões climáticas;
- Fadiga: cansaço extremo, mesmo após descanso, muitas vezes associado ao estresse emocional;
- Irritabilidade: aumento da sensibilidade emocional, levando às reações desproporcionais a situações cotidianas;
- Dificuldade de concentração: problemas para focar em tarefas devido a pensamentos intrusivos relacionados à crise climática;
- Medo intenso ou pânico: crises de pânico que podem se manifestar fisicamente, como falta de ar, palpitações e sudorese;
- Sentimentos de desamparo e desesperança: uma sensação de que não há controle sobre a situação climática e que as ações individuais são ineficazes;
- Evitação: tendência a evitar informações sobre mudanças climáticas ou eventos relacionados, como notícias sobre desastres ambientais;
- Mudanças no apetite: alterações nos hábitos alimentares, que podem incluir perda ou aumento do apetite;
- Preocupação excessiva: Pensamentos constantes sobre desastres climáticos, perda de habitat e extinção de espécies.
O psicólogo explica, ainda que, o estresse pode se transformar em ecoansiedade à medida que as pessoas testemunham a devastação ambiental, gerando preocupação sobre o futuro incerto que se apresenta em relação ao clima e suas consequências. “Observamos que a dificuldade no abastecimento de água gera estresse e prejuízos financeiros, especialmente entre as populações mais vulneráveis”, frisou.
Diante desse cenário, o psicólogo orienta que a população de Rondônia busque formas de lidar com os possíveis sintomas de ecoansiedade, que são:
- Aumento de gastos com saúde: a ecoansiedade pode levar a um aumento na demanda por serviços de saúde mental, resultando em custos mais altos para terapia, medicamentos e tratamentos relacionados. Essa pressão financeira pode afetar a estabilidade econômica das famílias;
- Perda de produtividade: indivíduos que enfrentam ecoansiedade podem ter dificuldades para se concentrar no trabalho ou na escola, resultando em perda de produtividade. Isso pode levar a uma diminuição na renda e, em alguns casos, a demissões ou dificuldades em manter empregos;
- Problemas de saúde física: a ecoansiedade pode se manifestar em sintomas físicos, como dores de cabeça, problemas gastrointestinais e doenças cardiovasculares, que podem gerar despesas médicas adicionais e aumentar a carga sobre os sistemas de saúde;
- Efeito em negócios locais: em comunidades afetadas por crises climáticas, como queimadas e escassez de água, o estresse financeiro pode levar ao fechamento de negócios locais, impactando a economia regional e ainda, resultar em perda de empregos, gerando impacto na ansiedade do indivíduo;
- Desigualdade social: a ecoansiedade pode afetar desproporcionalmente as populações mais vulneráveis, que já enfrentam desafios financeiros. Isso pode criar um ciclo de estresse e ansiedade, aumentando a disparidade econômica e dificultando o acesso a cuidados de saúde adequados;
Em relação às preocupações financeiras e de saúde, devido os impactos das mudanças climáticas, o especialista recomenda:
- Planejamento financeiro: criar um orçamento que inclua despesas com saúde mental e iniciativas que possa gerenciar melhor as finanças;
- Apoio profissional: buscar apoio de profissionais de saúde mental é essencial para lidar com a ecoansiedade, minimizando seu impacto na saúde e na vida financeira;
- Ações comunitárias: participar de iniciativas comunitárias voltadas para à sustentabilidade pode fortalecer os laços sociais e oferecer suporte emocional;
O especialista recomenda a prática de exercícios de controle da ansiedade, como técnicas de respiração e mindfulness, uma técnica de meditação que se caracteriza pela atenção plena, estar focado no momento presente e não no passado ou futuro, se possível envolver-se em atividades que promovam o bem-estar social, como atividades sociais.
Iniciativas locais, como mutirões de campanhas de conscientização sobre a preservação ambiental, são exemplos de como a população pode se unir para enfrentar esses desafios. “Essas ações beneficiam o meio ambiente, e fortalecem os laços comunitários, oferecendo um sentimento de propósito para aqueles que estão começando a apresentar sintomas de ecoansiedade”, concluiu o psicólogo.