Mariela Frey, mãe de cinco filhos, é brasileira. Ela decidiu se aposentar após cair de um helicóptero de uma altura de 24 metros durante uma missão na África do Sul. Mariela Frey começou a servir em 2002 e se aposentou por questões de saúde
Arquivo pessoal e Redes sociais
Do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos a uma loja de cookies americanos em Santos, no litoral de São Paulo. A brasileira Mariela Frey, de 45 anos, é mãe de cinco filhos e se aposentou como major após cair de um helicóptero, em uma altura de 24 metros, durante uma missão na África do Sul. Atualmente, ela é empreendedora na Baixada Santista e afirma ter uma vida “marcada por batalhas”.
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Mariela nasceu em Porto Velho, em Rondônia. Em 1997, mudou-se para os Estados Unidos e conquistou um lugar como fuzileira após 13 semanas de treinamento intenso nas águas e na floresta. Graduou-se com honras, subiu de posto e criou uma família no país.
No meio do percurso, a brasileira chegou a ser esfaqueada e a entrar em coma por duas vezes. Com toda essa experiência, Mariela contou ao g1 que atualmente valoriza mais as “pequenas coisas da vida”, como o tempo de qualidade com os filhos e o trabalho na ‘The Cookie Monster’, no bairro Gonzaga, em Santos (SP).
“Minha história não é sobre negócios. É sobre uma vida marcada por batalhas […]. Escolhi Santos porque é uma cidade maravilhosa, dá para andar para [todo lugar], as pessoas me trataram muitíssimo bem. Fui muito bem-vinda aqui desde que cheguei. Me senti em casa”, disse ela.
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Ascensão
Mariela treinava natação quando adolescente
Arquivo pessoal
Mariela nada desde pequena. Aos 11 anos, mudou-se para Salvador (BA) para treinar e se tornar atleta olímpica. Após se recuperar de um quadro de febre tifóide na cidade, foi chamada para treinar em Santos, aos 15. Este foi o primeiro contato dela com a cidade litorânea.
Já em 1997, os ares mudaram e Mariela teve a oportunidade de treinar em San Diego, na Califórnia (EUA). Sem falar “uma palavra de inglês”, tornou-se treinadora de natação em um time da base militar do estado, casou e teve a filha mais velha.
O primeiro “baque” aconteceu quando Mariela perdeu o marido para um câncer, em 2002. Aos 23 anos, ela ficou viúva com uma bebê de apenas um ano para criar. A perda fez a brasileira “reavaliar” a própria vida e, aproximadamente um ano depois, ela passou a servir na Guerra do Iraque.
“Depois de muita luta, muito trabalho, tive uma oportunidade de testar para entrar no serviço militar com o meu green card [documento para residentes permanentes] e consegui entrar nos Fuzileiros Navais, que era o mais difícil. Sempre gostei de competição”, brincou.
Percalços
Mariela trabalhava com resgate em diversos países, como Iraque e Síria
Arquivo pessoal
A princípio, Mariela serviu como tradutora nas guerras, aprendendo aos poucos o idioma local (inglês) e também o espanhol. Com o passar dos anos, ela participou de diversas operações, incluindo países como a Líbia, Somália e Iêmen.
Nos últimos anos, Mariela exerceu a função de Comandante de Aeronaves de Helicóptero, que envolvia saltos das aeronaves para o resgate de companheiros de batalha.
“Comecei sem conseguir correr, era muito magrinha, não tinha força pra nada. No treinamento fui melhorando […]. Durante os anos em que estava alistada, consegui fazer faculdade, então eu tenho mestrado de Negócios Internacionais e bacharelado em Marketing”, explicou ela.
Durante uma missão em 2008 no Iraque, Mariela foi esfaqueada por um combatente inimigo e precisou ficar em coma por quatro meses. Em 2017, sofreu um traumatismo craniano em função de uma coronhada que levou no Afeganistão. O período em coma, dessa vez, foi de três meses.
Mariela (de calça branca) com colegas militares nos Estados Unidos
Arquivo pessoal
Em setembro de 2023, Mariela sofreu uma concussão que mudaria a vida dela por completo. O ferimento aconteceu após cair de um helicóptero na África do Sul, em uma altura de 24 metros, pois um colega não teria se atentado ao fecho da corda que a segurava.
“Aquilo ali para mim foi um baque, para me acordar. A vida é muito mais importante, meus filhos, a minha filha que precisa muito de mim. E decidi que era a hora [de me aposentar]. Dinheiro não paga a felicidade”, disse.
Durante o período nos Estados Unidos, Mariela teve mais quatro filhos, frutos do segundo casamento: hoje, eles têm 24, 19, 16, 11 e 8 anos. A caçula tem acondroplasia [nanismo], mais uma razão que motivou a mulher a retornar para o Brasil. Divorciada, ela trouxe o filho de 11 e as filhas de 19 e 8.
“Quando vim para o Brasil, fiquei sabendo do sistema do SUS [Sistema Único de Saúde] e todo o apoio que tem aqui, que não tem lá. As pessoas acham que a grama é mais verde do outro lado, e mesmo com tudo que tem nos Estados Unidos, o Brasil dá de goleada na parte médica”, disse.
Dar valor à vida
Filha mais velha (à esq.) seguiu os passos da mãe se tornou militar; filha mais nova (à dir.) de Mariela
Arquivo pessoal
Desde que tomou a decisão de voltar para o Brasil em definitivo, em dezembro do ano passado, Mariela visitou cidades como Rio de Janeiro, Curitiba e no estado de Santa Catarina para identificar onde se sentiria bem. No entanto, foi Santos que chamou a atenção dela.
A decisão de abrir uma loja de cookies foi tomada há aproximadamente seis meses. De acordo com Mariela, a intenção era criar “algo novo”, que não era visto no local. Com ajuda dos filhos e o acolhimento da comunidade, ela se reinventou, agora na cozinha e no balcão da própria loja.
“Quando as pessoas vêm aqui conversar e ficam sabendo da minha vida, conto a minha história e ficam chocadas […]. Passar essa experiência para eles, do que eu passei por lá, é dar mais valor à vida, dar mais valor à família. O dia a dia, as coisas que a gente deixa de lado, que são muito importantes”, concluiu.
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