Artistas locais usam mural para protestar contra queimadas e alertar sobre as consequências das mudanças climáticas em Rondônia. Amazônia em Chamas mural em Porto Velho denuncia destruição ambiental
Em tempos em que o céu não é mais azul e a brisa não é mais fresca, sendo substituídos pelo mormaço e pela fumaça, o projeto “Amazônia em Chamas” foi criado pelo coletivo Megafone Ativismo. A iniciativa convidou quatro artistas para realizar uma intervenção artística no muro da Rede Amazônica RO, localizado na Avenida Jorge Teixeira, uma das principais vias de Porto Velho.
Os artistas escolhidos para pintar o mural, de mais de 35 metros de comprimento, são todos rondonienses que residem na capital. São eles:
a jornalista e artista Nathalia Monteiro,
o tatuador e artista Latrop,
os grafiteiros João Alberto da Silva, mais conhecido como “Silva”,
e Elias Santos, o “Rabsk”.
Ao g1, Digo Amazonas, um dos idealizadores do projeto e membro do Megafone Ativismo, explicou que a ação faz parte do projeto “Murais Ativistas”, que busca realizar intervenções artísticas para protestar ou denunciar questões urgentes.
“Os artistas foram convidados para expressar, por meio da arte, sua indignação com o que está acontecendo em Rondônia no que tange ao meio ambiente. Como são moradores locais, eles vivenciaram essa realidade. Foi dada liberdade para que pudessem expressar suas dores, revoltas e transformar isso em arte, tornando o protesto a dor de todos os rondonienses”, disse Digo.
Um dos artistas, “Silva”, que trabalha com grafite, contou que a intervenção durou cinco dias. Cada artista ficou responsável por pintar duas letras da palavra “Amazônia” e a ideia foi retratar a fauna, flora e povos originários.
Painel “Amazônia em Chamas” finalizado
Reprodução/Rainer Oliveira
O restante do mural retrata as consequências da intervenção humana na natureza, fazendo uma crítica ao período de seca e fumaça que a população de Rondônia enfrenta. “Silva” revelou que, ao final da pintura, decidiram, propositalmente, “colocar fogo” no painel.
“A gente finalizou primeiro o letreiro e depois colocamos as chamas. Algumas pessoas que passavam interagiam e diziam: ‘pô, estava tão bonito antes de vocês colocarem fogo’. Isso é verdade, tipo: a floresta também estava bonita antes de a gente chegar e tacar fogo”, desabafou.
A jornalista e artista Nathalia Monteiro destacou a importância de “chamar a atenção” para as mudanças climáticas. Segundo ela, a escolha da principal avenida da cidade foi estratégica, pois quanto mais pessoas verem o mural, maior será o impacto.
“A gente tem que usar a arte como meio de chamar a atenção para essa mudança. Assim como a ação humana destrói, ela também pode salvar”, afirmou Nathalia.
Arte e ativismo
O mural é uma expressão do “arte ativismo”, que dá liberdade de criação aos artistas para conscientizar, provocar reflexão e impulsionar mudanças em questões sociais, políticas e ambientais.
A indigenista Ivaneide Bandeira, mais conhecida como Neidinha Suruí, disse que o mural retrata a destruição ambiental em Rondônia, que nos últimos anos está entre os estados que mais desmatam e queimam as florestas. Segundo ela, a obra traz uma mensagem forte sobre o desequilíbrio climático.
“É uma mensagem forte e necessária”, afirmou Neidinha.
A ativista Txai Suruí definiu o mural como um ato de consciência política, resistência e enfrentamento às queimadas. Ela também destacou que a Amazônia é vista como a “periferia do mundo” e que as pessoas só se deram conta da gravidade da situação quando a fumaça chegou ao Sudeste.
“A gente fala que a Amazônia é o pulmão do mundo, mas durante dois meses, esse pulmão respirou fumaça”, desabafou.
Txai também afirmou acreditar no poder da arte periférica e no impacto do mural, pensado para fazer as pessoas refletirem sobre o que está acontecendo com a floresta.
“A Amazônia está queimando. Mas a Amazônia é aqui. A Amazônia somos nós e temos que protegê-la.”

Confira mais imagens da obra:



G1 Rondônia