Especialista explica que qualquer tratamento para endometriose visa melhorar a qualidade de vida, pois a doença é crônica e não tem cura. Cintia Lauana.
Reprodução/Cintia Lauana
A endometriose é uma doença ginecológica inflamatória que afeta cada vez mais mulheres no Brasil. A confeiteira Cintia Lauana Silva, de 26 anos, convive com a doença há cerca de três anos e aguarda por uma cirurgia que pode amenizar as dores causadas pela endometriose.
Cintia mora em Porto Velho e foi diagnosticada em 2021, quando começou a sentir fortes dores e teve o ciclo menstrual interrompido.
“Comecei a sentir dores fora do meu ciclo e percebi que isso não era normal. Achei muito estranho e decidi procurar um ginecologista, daí os exames confirmaram a endometriose”, conta Cintia.
O médico ginecologista e obstetra integrativo, Rodrigo Carrapeiro, esclarece que a endometriose é uma doença proliferativa crônica que ocorre quando células do endométrio se implantam em outros locais fora do útero.
O especialista explica que existem diferentes tipos de endometriose, variando conforme o local de implantação das células. Veja alguns tipos:
Endometrioma: células implantadas no ovário;
Endometriose profunda: células implantadas na bexiga, intestino, por trás do útero;
Adenomiose: células implantadas no músculo do útero.
Como a endometriose se desenvolve?
De acordo com o ginecologista Rodrigo Carrapeiro, existem várias teorias para explicar seu desenvolvimento, como a ‘Menstruação Retrógrada’.
“Suponha que você menstrue 100 ml; se 20 ml desse total retornarem pelas trompas, a menstruação passará pelas trompas, pelos ovários e cairá na cavidade abdominal”, explica.
O especialista enfatiza que essa teoria foi amplamente aceita por muitos anos, mas agora a medicina reconhece que a endometriose pode ter um componente hereditário.
“Existe essa teoria de hereditariedade, passada de mãe para filho. Assim, alguém pode ter a doença sem sintomas ou nunca desenvolvê-la, enquanto outros podem desenvolvê-la sem histórico familiar”, pontua.
Segundo o especialista, a descoberta da endometriose hereditária foi feita com base em análises de fetos nascidos mortos, onde necropsias revelaram células de endometriose.
Ao g1, Cintia afirmou não ter histórico familiar de endometriose, mas há várias suspeitas.
Como é feito o diagnóstico?
Para os médicos, o diagnóstico é geralmente feito clinicamente, com base nos sintomas.
“Pacientes que relatam cólicas menstruais intensas, dor abdominal, sangramento menstrual excessivo, dor durante a relação sexual, dor ao urinar ou defecar durante o período menstrual. Esses são sinais que nos fazem considerar a endometriose”, diz Rodrigo.
É recomendável estar atento a qualquer dor na região pélvica, pois pode ser um sinal de endometriose.
“O diagnóstico é feito principalmente com base na dor, e outro sinal é a infertilidade. Mulheres que têm dificuldade para engravidar e apresentam essas dores características podem ter endometriose quando investigadas”.
Além dos sintomas, o diagnóstico inclui exames de imagem, como Ultrassonografia Transvaginal com Preparo Intestinal para pesquisa de endometriose profunda e Ressonância Nuclear Magnética.
Quais são os sintomas?
O principal sintoma é a dor, que pode variar, sendo a cólica intensa a mais comum e que não melhora com medicamentos comuns.
No caso de Cintia, as dores sempre estiveram presentes. Desde suas primeiras menstruações, ela sofria de inchaço abdominal e fluxo menstrual intenso, que se agravou ao longo do tempo.
“Sinto como se houvesse um peso na região pélvica, além de dores lombares e nas pernas, urgência urinária, constipação ou diarréia, dor ao evacuar, cólicas intestinais e fadiga”, explica a confeiteira.
Cintia Lauana e o esposo Leonardo Felipe.
Reprodução/Cintia Lauana
Entre os sintomas mencionados por Cintia estão o inchaço abdominal e dor durante o sexo. Para ela, além das dores físicas, lidar com o impacto emocional é desafiador, especialmente o medo de não conseguir engravidar.
“Infelizmente, pode afetar a fertilidade. Sempre quisemos ter filhos [Cintia e o marido], mas adiamos para o momento certo. Quando descobri a endometriose, fiquei preocupada, com medo de não conseguir engravidar”.
Os sintomas podem dificultar atividades simples do dia a dia, como limpar a casa e fazer exercícios físicos.
“Atrapalha em qualquer coisa que eu tente fazer, no trabalho; se fico muito tempo em pé, as dores começam; se fico muito tempo sentada, também; meu desempenho caiu bastante”, diz.
Como é feito o tratamento?
Ao g1, o médico Rodrigo Carrapeiro explicou que qualquer tratamento para endometriose visa melhorar a qualidade de vida, pois a doença é crônica e não tem cura.
No caso de Cintia, a cirurgia foi recomendada como uma alternativa para aliviar a dor e reduzir a intensidade dos sintomas.
“A cirurgia pode oferecer resultados significativos no tratamento da dor crônica e assim melhorar a qualidade de vida, mas é crucial ser uma cirurgia completa, com remoção de todas as lesões de endometriose, realizada por uma equipe especializada”, explica Cintia.
Segundo o médico, a tendência é que a endometriose piore, devido à sua natureza inflamatória e proliferativa, sendo agravada pelo estilo de vida.
“Pessoas que têm hábitos não saudáveis, como dieta inadequada, consumo excessivo de açúcar e farinha, falta de atividade física, sono ruim e estresse elevado, têm maior probabilidade de piorar a endometriose”.
O especialista enfatiza que contraceptivos não tratam a endometriose e que os pacientes não devem aceitar essa indicação. No entanto, a endometriose pode ser prevenida com hábitos saudáveis, como:
Prática regular de atividades físicas;
Boa qualidade de sono;
Alimentação anti-inflamatória;
Manutenção de uma boa composição corporal.
Antes do diagnóstico, Cintia não tinha conhecimento sobre a endometriose e agora se dedica a compartilhar informações sobre a doença nas redes sociais.
Cintia Lauana compartilha sua história nas redes sociais.
Reprodução/Cintia Lauana
G1 Rondônia