Imagens, desenhos e representações da fruta são usados como forma de resistência palestina desde 1967. As manifestações começaram no dia 18 de abril na Universidade Columbia, em Nova York, e se espalharam por faculdades nos EUA e na França. Manifestante faz cartaz pró-Palestina com melancia em protesto em universidade nos Estados Unidos.
Reprodução/Globonews
Enquanto estudantes tomam as universidades dos Estados Unidos e de alguns locais da Europa em protestos pró-Palestina, é possível ver desenhos e reproduções de melancias em cartazes, camisetas e publicações nas redes sociais. Em alguns casos, os ativistas chegam a levar a própria fruta a protestos. O uso, no entanto, não é novo. Mas o que elas representam?
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Os protestos que se espalham pelas universidades são contra a atuação de Israel na Faixa de Gaza —iniciada após o grupo terrorista Hamas, que controla a região, invadir e atacar o território israelense; na ocasião, cerca de 1.200 pessoas morreram. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que deixou cerca de 34 mil mortos em Gaza, de acordo com o Hamas. Os dois lados discutem um cessar-fogo.
A melancia se tornou um símbolo de força e resistência palestina em 1967, após a Guerra dos Seis Dias entre árabes e israelenses. Naquele momento, Israel tomou o controle de Gaza da Cisjordânia, e a exibição pública da bandeira palestina foi proibida nesses locais, com o risco de prisão para quem não obedecesse a regra.
Para contornar a proibição, os palestinos começaram a usar a melancia, já muito consumida na região, como forma de protesto. A fruta, quando cortada, tem as mesmas cores da bandeira nacional: vermelho, preto, branco e verde.
Veja por que a melancia se tornou símbolo da resistência palestina
Até mesmo o uso das cores da bandeira se tornou alvo de repressão. Em 1980, na cidade de Ramallah, militares fecharam uma galeria dirigida por três artistas porque exibiam obras nas cores da bandeira palestina.
Em entrevista à agência de notícias Associated Press, o artista e organizador da exposição, Sliman Mansour, relatou que foi convocado por um oficial para dar explicações. O soldado disse a ele que era proibido organizar uma exposição sem autorização dos militares, assim como “pintar com as cores da bandeira palestinia”. O oficial mencionou a própria melancia como um exemplo de arte que violaria as regras do exército.
Em protesto, as pessoas começaram a sair em público com a fruta. Há relatos de jovens que desafiaram a repressão e andaram pelas ruas com fatias de melancia, arriscando serem presos pelos soldados. A fruta, para alguns, representa o “espírito inquebrável do povo palestino.”
A proibição só foi retirada por Israel em 1993, como parte dos Acordos de Oslo, os primeiros acordos formais para tentar resolver o conflito entre Israel e Palestina, que já durava décadas. A bandeira foi aceita para representar a Autoridade Palestina, que administraria Gaza e a Cisjordânia.
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A fruta, no entanto, já havia se tornado um grande símbolo de resistência. Após o acordo, pessoas da Faixa de Gaza foram presas por carregar melancias fatiadas enquanto multidões marchavam agitando a bandeira, que já foi proibida, sem repressão policial.
Outra razão pela qual a melancia pode ter se espalhado como imagem de resistência está nas sementes. Há um ditado, frequentemente atribuído ao poeta grego Dinos Christianopoulos, que é popular entre os manifestantes: “Eles queriam nos enterrar; eles não sabiam que éramos sementes.”
Hoje em dia, o uso da fruta em faixas, camisetas e emojis na internet se tornou um símbolo de solidariedade, uma forma de reunião de ativistas que não falam a mesma língua, nem pertencem à mesma cultura, mas compartilham a mesma causa.
“Acampamento de solidariedade à Palestina”, diz o cartaz de manifestantes em universidade nos Estados Unidos.
Reprodução/Globonews
“Bandeira de melancia”
Em 2007, logo após a Segunda Intifada, o artista palestino Khaled Hourani desenhou uma fatia de melancia para um livro intitulado “Atlas Subjetivo da Palestina”. Em 2013, ele isolou uma gravura e a batizou de “As Cores da Bandeira Palestina”, o que se popularizou entre ativistas de todo o mundo.
Em janeiro do ano passado, o Ministro da Segurança Nacional da extrema direita de Israel, Itamar Ben-Gvir, provocou uma oposição fervorosa ao proibir bandeiras palestinas em locais públicos.
‘Bandeira da melancia’, 2021
Reprodução/Khaled Horani
Em resposta, ativistas lançaram uma campanha para protestar contra as detenções e o confisco de bandeiras. O grupo colou nos táxis de Tel Aviv grandes adesivos de melancia que diziam: “Esta não é uma bandeira palestina”.
Em um comunicado por escrito, a organização afirmou: “Nossa mensagem ao governo é clara. Encontraremos sempre uma forma de contornar qualquer proibição absurda e não deixaremos de lutar pela liberdade de expressão e pela democracia”.
Emojis na internet
Jovens têm cada vez mais adotado o emoji de melancia ao pedir um cessar-fogo em Gaza nas redes sociais. Além de representações da fruta, o uso do emoji de melancia se tornou muito popular.
Manifestantes pró-Palestina usando imagens de melancia.
Associated Press
Embora possa parecer apenas uma moda virtual, o objetivo é confundir os algoritmos. Defensores dizem que as empresas de tecnologia estão suprimindo postagens com palavras-chave como “Gaza” e até mesmo “Palestina”.
Organizações sem fins lucrativos que estudam os direitos digitais no Oriente Médio alegam que detectaram preconceitos gritantes nas plataformas.
Em uma das denúncias, pessoas começaram a notar que se a biografia do Instagram dissesse “Palestino” em inglês ao lado do emoji da bandeira palestina e “Louvado seja Deus” em árabe, o aplicativo traduzia o texto para “Terrorista”.
A empresa Meta divulgou um pedido público de desculpas.
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